Are you experienced?

Um salto sem paraquedas. Uma infância enigmática passada em uma casa vermelha, e o destino de James é determinado por um presente. Após um apoteótico nascimento na América o rock`n`roll cruzara o oceano e na Swinging London dos anos 60 os grandes guitarristas eram reis. Festas, gruppies, entrevistas, sets de filmagem... James viaja em busca de um desafio. Uma sessão de cinema. As vidas de Pete, Eric, George, Keith e Jeff nunca mais seriam as mesmas.

O ladrão

Julgando ser a impessoalidade seu maior álibi, escolhia seus caminhos seguindo suas vítimas. Mal sabia que já vinha sendo rastreado pela polícia. Tratava-se de um perigoso ladrão de karmas, um usurpador de almas. Aquela segunda-feira chegava ao fim, e ao entrar em casa tirava seu último roubo. Era, assim, o único que não conhecia: ele mesmo.

Desenho: Ricardin Coimbra

Duelo


Escrevo essa história por insistência. História que começa com um telefone tocando às três da manhã. Alô, diz Vivian ainda deitada. Juarez se limita a respirar do outro lado da linha. É frio e paciente. Ignora calmamente as súplicas de Vivian, que não agüenta mais a tortura de não saber sequer quem a telefona todas as madrugadas há semanas. Juarez permanece quieto. Escrevo por insistência, pois desde o início essa história se recusa a terminar. Está constrangida. Chegar ao ponto final passa a ser um objetivo. Juarez, portanto, caminhava após ter desligado o telefone sem mais uma vez ter dito nada. Pensava no segredo envolvendo Vivian, em tudo que podia ter sido diferente... Tomada pela revolta, a história luta pelo direito de morrer. Sentindo-se diminuída, inferiorizada a cada palavra, ela, que não queria sequer ter nascido, deseja somente uma morte rápida e digna. Já se vê mártir e ofega triunfante, ao mesmo tempo em que coloco, às pressas, Juarez frente a frente com Vivian, e sob a luvvvvvvvvnnnnnnn




vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv.

Desenho: Pedrin
Publicado no Thorazine III (2005)

O homem que se atirou na fonte


Os braços jogados pra trás, forte impulso nas pernas, e com um salto mortal de costas atirou-se na fonte. Ainda acreditava em sonhos que um dia se realizam. Só não tinha moedas no bolso.

Desenho: Pedrin
Publicado no Thorazine II (2004)

Telefone do encanador


Fugira ao seu controle. Não havia mais como conter. A água agora jorrava quase atingindo o teto da cozinha. Os joelhos já encobertos, e pensar que um dia apenas pingava. Rasgando o telefone do encanador, compreendeu que definitivamente teria que aprender a respirar debaixo d`água.

Desenho: Alessandro Corrêa
Publicado no Thorazine I (2004)

O dia em que Ele tomou barbitúricos


Estava com bloqueio criativo. Logo Ele, e não sabia sequer o motivo para tamanha desgraça. Poderia ser efeito do desânimo dos últimos meses, quando vinha pensando muito sobre o conjunto de Sua obra. Coçando a barba branca em frente à velha máquina de escrever, olhava desolado para aquela folha em branco. Talvez a implantação de árvores em áreas estratégicas ou um retrocesso de alguns milhares de anos... Lembrou-se da época do ornitorrinco e riu perdendo o foco do olhar.
Arrancou a folha da máquina, amassou e jogou pela janela junto com um grande e empoeirado livro. Tomou vários comprimidos diferentes, apagou o cigarro e foi se deitar. Pronto. Era o fim dos tempos.

Desenho: Ricardin Coimbra
Publicado no Thorazine I (2004)