Escrevo essa história por insistência. História que começa com um telefone tocando às três da manhã. Alô, diz Vivian ainda deitada. Juarez se limita a respirar do outro lado da linha. É frio e paciente. Ignora calmamente as súplicas de Vivian, que não agüenta mais a tortura de não saber sequer quem a telefona todas as madrugadas há semanas. Juarez permanece quieto. Escrevo por insistência, pois desde o início essa história se recusa a terminar. Está constrangida. Chegar ao ponto final passa a ser um objetivo. Juarez, portanto, caminhava após ter desligado o telefone sem mais uma vez ter dito nada. Pensava no segredo envolvendo Vivian, em tudo que podia ter sido diferente... Tomada pela revolta, a história luta pelo direito de morrer. Sentindo-se diminuída, inferiorizada a cada palavra, ela, que não queria sequer ter nascido, deseja somente uma morte rápida e digna. Já se vê mártir e ofega triunfante, ao mesmo tempo em que coloco, às pressas, Juarez frente a frente com Vivian, e sob a luvvvvvvvvnnnnnnn
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Desenho: Pedrin
Publicado no Thorazine III (2005)