
Are you experienced?

O ladrão

Julgando ser a impessoalidade seu maior álibi, escolhia seus caminhos seguindo suas vítimas. Mal sabia que já vinha sendo rastreado pela polícia. Tratava-se de um perigoso ladrão de karmas, um usurpador de almas. Aquela segunda-feira chegava ao fim, e ao entrar em casa tirava seu último roubo. Era, assim, o único que não conhecia: ele mesmo.
Desenho: Ricardin Coimbra
Duelo

Escrevo essa história por insistência. História que começa com um telefone tocando às três da manhã. Alô, diz Vivian ainda deitada. Juarez se limita a respirar do outro lado da linha. É frio e paciente. Ignora calmamente as súplicas de Vivian, que não agüenta mais a tortura de não saber sequer quem a telefona todas as madrugadas há semanas. Juarez permanece quieto. Escrevo por insistência, pois desde o início essa história se recusa a terminar. Está constrangida. Chegar ao ponto final passa a ser um objetivo. Juarez, portanto, caminhava após ter desligado o telefone sem mais uma vez ter dito nada. Pensava no segredo envolvendo Vivian, em tudo que podia ter sido diferente... Tomada pela revolta, a história luta pelo direito de morrer. Sentindo-se diminuída, inferiorizada a cada palavra, ela, que não queria sequer ter nascido, deseja somente uma morte rápida e digna. Já se vê mártir e ofega triunfante, ao mesmo tempo em que coloco, às pressas, Juarez frente a frente com Vivian, e sob a luvvvvvvvvnnnnnnn
vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv.
Desenho: Pedrin
Publicado no Thorazine III (2005)
O homem que se atirou na fonte
Telefone do encanador

Fugira ao seu controle. Não havia mais como conter. A água agora jorrava quase atingindo o teto da cozinha. Os joelhos já encobertos, e pensar que um dia apenas pingava. Rasgando o telefone do encanador, compreendeu que definitivamente teria que aprender a respirar debaixo d`água.
Desenho: Alessandro Corrêa
Publicado no Thorazine I (2004)
O dia em que Ele tomou barbitúricos
Estava com bloqueio criativo. Logo Ele, e não sabia sequer o motivo para tamanha desgraça. Poderia ser efeito do desânimo dos últimos meses, quando vinha pensando muito sobre o conjunto de Sua obra. Coçando a barba branca em frente à velha máquina de escrever, olhava desolado para aquela folha em branco. Talvez a implantação de árvores em áreas estratégicas ou um retrocesso de alguns milhares de anos... Lembrou-se da época do ornitorrinco e riu perdendo o foco do olhar.
Arrancou a folha da máquina, amassou e jogou pela janela junto com um grande e empoeirado livro. Tomou vários comprimidos diferentes, apagou o cigarro e foi se deitar. Pronto. Era o fim dos tempos.
Arrancou a folha da máquina, amassou e jogou pela janela junto com um grande e empoeirado livro. Tomou vários comprimidos diferentes, apagou o cigarro e foi se deitar. Pronto. Era o fim dos tempos.
Desenho: Ricardin Coimbra
Publicado no Thorazine I (2004)
Assinar:
Postagens (Atom)